terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A actividade de um marcador de artrite reumatóide pode ser observada até 4 anos antes do início da doença

Autora: Janis C. Kelly
A auto-imunidade dirigida contra o peptidil arginina-deaminase tipo 4 (anti-PAD-4) aparece na fase pré-clínica da artrite reumatóide (AR) e está associada com a auto-imunidade anti-cíclica do peptídeo citrulinado (anti-CCP).  Ambos os marcadores tornam-se mais frequentes à medida que o paciente com AR se torna sintomático.
Estes novos dados, relatados pelo Dr. Jason R. Kolfenbach e seus colaboradores da University of Colorado, de Denver, estão na edição de Setembro da Arthritis & Rheumatism. Segundo os autores, os resultados dão sustentação “à hipótese de que a amplificação de múltiplas vias auto-imunes" contribui para o desenvolvimento da AR.

O Dr. Eric L. Matteson, Director do Departamento de Reumatologia da Mayo Clinic de Rochester, no Minnesota, disse ao Medscape Medical News que "a identificação de marcadores de auto-imunidade com elevada especificidade para a AR pode ter utilidade clínica no futuro, caso se possa demonstrar que o tratamento precoce em pacientes assintomáticos, com base apenas na sua presença, previne ou atenua a expressão da doença". 
O especialista não esteve envolvido directamente neste estudo.

Ele acrescentou: "precisamos saber se todas as estratégias de rastreamento baseado delas valem a pena (por exemplo, entre os familiares de pacientes com AR).
Contudo, os dados ainda são demasiado preliminares para darmos esse passo agora. Chamo atenção para um fato de que estes marcadores foram detectados antes da manifestação clínica da doença em apenas 18% dos pacientes que desenvolveram a doença posteriormente".

O Dr. Kolfenbach e seus colaboradores destacaram que outros estudos têm encontrado uma taxa de prevalência de anti-PAD-4 entre os pacientes com AR que variou de 35 a 45%; nestes indivíduos, a duração da doença variou de 7 a 13,5 anos. 
Os pesquisadores suspeitam que a menor prevalência verificada entre os seus pacientes reflecte o estágio inicial da doença nesta coorte, que apresentava uma duração média de doença de apenas 3,3 anos no momento do estudo.

Os autores avaliaram amostras de soro de 83 pacientes com AR anteriormente ao diagnóstico e de 83 pacientes do grupo controle pareados por idade, sexo, etnia, número de amostras de soro e o tempo de armazenamento do soro.

Eles detectaram a presença de anticorpos anti-PAD-4 em 15 dos 83 pacientes com AR (18,1%) em comparação com apenas um (1,2%) dos 83 pacientes pertencentes ao grupo controle. Isto indica que a dosagem deste anticorpo apresenta uma sensibilidade de 18,1% e especificidade de 98,8% para predizer o desenvolvimento subsequente desta doença.

O anticorpo anti-PAD-4 também esteve presente numa média de 4,67 anos antes do diagnóstico clínico da AR.  O anticorpo Anti-CCP estava presente em uma média de 3,49 anos antes do diagnóstico.  O factor reumatóide (FR) apresentava
-se positivo numa média de 3,8 anos antes do diagnóstico.

Os pesquisadores observaram ainda uma reversão ao estado soronegativo persistente após o diagnóstico de AR em 6 (43%) dos 14 pacientes que apresentavam positividade para o anti-PAD-4.  Eles sugerem que isso pode reflectir "um melhor controle da doença após o início da terapia imunossupressora."

A latência entre o aparecimento dos anticorpos anti-CCP e o diagnóstico de AR era maior do que três anos entre os pacientes que também apresentavam anti-PAD-4, em comparação com aqueles com positividade apenas para o anti-CCP. 
Os pesquisadores sugerem que a perda das funções do PAD-4 pode resultar em diminuição dos níveis de proteína citrulinização prolongando, assim, o período pré-clínico.

As enzimas PAD catalisam as modificações pós-tradução de arginina em citrulina.
Os autores comentam que "este processo tende a ser importante nos pacientes com Artrite Reumatóide, dada a recém descrita associação dos anticorpos anti-proteína citrulinadas (ACPAs) e a gravidade da doença".

O Dr. Matteson disse: "acho que estes dados são bastante convincentes de que existem processos fisiopatológicos detectáveis que antecedem ao início da manifestação clínica da AR.
A modificação pós-translacional da arginina em citrulina, com formação de anticorpos anti-citrulinados é um dos processos mais específicos identificados até o momento. A importância deste achado é que eles acabam por lançar mais luz sobre a fisiopatologia desta doença em seu curso inicial."

O estudo foi financiado pelo American College of Rheumatology Research and Education Foundation, bem como pelo National Institutes of Health; mais especificamente com os subsídios do Autoimmune Prevention Center, General Clinical Research Centers Program/National Center for Research Resources, National Institute of Arthritis and Musculoskeletal and Skin Diseases e do National Research Service Award.  Dr. Matteson e os autores não declararam conflitos de interesses.