quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Fibromialgia, dor e raiva


Raiva está ligada à dor em mulheres com e sem fibromialgia

Autora: Dra. Laurie Barclay

Publicado em 10/05/2010
A raiva amplifica a dor clínica em mulheres com e sem fibromialgia, e a terapia cognitiva é eficiente no tratamento de fibromialgia, de acordo com os resultados de 2 estudos relatados na Arthritis Care & Research, a um jornal do American College of Rheumatology.

Evidências prévias que ligam emoções à Fibromialgia
"Nós observamos que muitos pacientes com fibromialgia experimentaram emoções negativas como raiva e tristeza em razão da sua condição, e pacientes disseram-nos que o stress que eles experimentavam todos os dias aumentava a sua dor,” diz o autor o Dr. Henriët van Middendorp, pesquisador do Psychorheumatology Research Group no Department of Clinical and Health Psychology, Faculty of Social and Behavioral Sciences at Utrecht University em Utrecht, na Holanda.
"Apesar de muitos estudos terem mostrado que emoções negativas e dor são associadas mutuamente, o que pode apenas reflectir que dor gera sentimentos funestos, quase nenhum estudo examinou se essas emoções negativas poderiam amplificar a dor.
Pesquisas prévias tinham mostrado que pacientes com fibromialgia respondem com mais dor a uma variedade de stress físico, mas stress psicológico e especialmente emocional foram pouco estudados, o que nos fez pensar se esses pacientes poderiam também ser hipersensíveis a stress emocional quando comparados com uma amostra de mulheres sem fibromialgia.
O ímpeto adicional para esse estudo veio da literatura já existente sobre raiva e especialmente no tratamento da raiva quando se lida com dor crónica, o que sugeriu que a raiva poderia ser especificamente relevante para a dor crónica.
"Num estudo prévio, nós mostramos que mulheres com fibromialgia não só experimentaram emoções negativas mais frequentemente e com uma intensidade maior, mas também processaram e lidaram com as suas emoções de maneiras menos saudáveis,” disse o Dr. Van Middendorp.
"Por exemplo, as mulheres com fibromialgia tinham mais dificuldade em identificar e descrever as suas emoções e suprimiam-nas mais ainda, o que levava a um pior funcionamento incluindo mais dor... Nesse estudo, nós gostaríamos de comparar duas emoções negativas, tristeza e raiva, para ver se nós iríamos achar que a raiva era uma emoção ”mais dolorosa” que a tristeza, ou se o efeito negativo geral seria o responsável por potenciais aumentos da dor."

Estudo Van Middendorp 
Nesse estudo, 62 mulheres com fibromialgia e 59 mulheres sem fibromialgia primeiro relembraram uma situação neutra e então relembraram tanto uma situação que levou à raiva e à tristeza, numa ordem contrabalançada.
Usando uma análise de variáveis de repetição de medidas, os investigadores estudaram o efeito dessas emoções em marcadores de resposta da dor, incluindo dor clínica não induzida e limites sensitivos induzidos experimentalmente, limiar de dor e tolerância à dor.
"Nós descobrimos que emoções negativas experimentadas no dia-a-dia são capazes de aumentar a dor acima dos níveis já altos de dor em mulheres com fibromialgia," disse o Dr. Van Middendorp. "Além disso, o nosso estudo sugere fortemente que emoções negativas podem causar um aumento da dor.
Nós não descobrimos que mulheres com fibromialgia eram mais sensíveis a emoções que mulheres sem fibromialgia e já tinham níveis de dor aumentados, o aumento da dor em razão das emoções negativas é especialmente relevante nesse grupo de pacientes.”
Em resposta a induções de dor e raiva, mulheres com fibromialgia tinham relatos de dor aumentados (P < 0,001), e ambos os grupos tinham um limiar de dor diminuído (P < 0,001) e tolerância a dor diminuída (P < 0,001). A reactividade à tristeza previu respostas clínicas à dor, enquanto a reactividade à dor previu as respostas à dor estimuladas tanto clinicamente quanto electricamente.
"Como as emoções negativas são uma parte inevitável da vida, especialmente ao lidar com dor crónica, poderia ser válido focar na tentativa da mudança do modo como pacientes com fibromialgia lidam com as suas emoções para tentar mudar o impacto que as emoções negativas têm na dor,” disse o Dr. Van Middendorp.
"Por exemplo, ensinar pacientes a reconhecer suas emoções e expressá-las pode diminuir a intensidade com a qual as emoções são experimentadas e – consequentemente - o impacto dessas emoções na dor."
Em relação à pesquisa adicional, o Dr. Van Middendorp recomendou a comparação das respostas da dor em pacientes que discordam em como eles experimentam e regulam as suas emoções e examinando os efeitos de emoções positivos, como a alegria, na dor em pacientes e não pacientes.
"Em razão de termos encontrado mais experiências emocionais e dificuldades de regulação em mulheres com fibromialgia do que nas sem a doença, é possível que diferenças na habilidade de relembrar, experimentar, e expressar a raiva e eventos tristes no nosso estudo são responsáveis pela falha para demonstrar que pacientes com fibromialgia mostram uma maior resposta induzida pela dor do que as mulheres controle," concluiu o Dr. Van Middendorp.
"As pesquisas futuras deveriam testar técnicas para facilitar um melhor regulamento das emoções, incluindo não somente intervenções para atenuar a experiência emocional, bem como o aprendizado cognitivo de relaxamento e  exercício, mas também técnicas para facilitar o conhecimento emocional, experimentando, e processando..."

Comentário: Técnicas de perdão são promissoras 
Quando perguntados para um comentário independente, Loren L. Toussaint, professor associado de psicologia no Luther College em Decorah, Iowa, e cientista visitante na Mayo Clinic em Rochester, Minnesota, disse que esse era um estudo “interessante e reflexivo" com achados "surpreendentes".
"Há razão para esperar que os pacientes com fibromialgia, quando comparados a indivíduos saudáveis, deveriam mostrar uma maior resposta de dor às emoções negativas como raiva ou tristeza,” disse o Dr. Toussaint. "Primeiro, poderia simplesmente representar que as nossas expectativas estão erradas e a conexão da emoção e da dor é mais similar que diferente quando comparamos os pacientes de fibromialgia a outros.
Uma segunda, e talvez mais viável, explicação, é que pacientes com fibromialgia vêm a esse estudo com mais dor para começar, o que pode ter mudado o efeito da emoção na dor simplesmente porque os pacientes com fibromialgia podem não ter sido capazes de experimentar mais dor do que a que já começaram o estudo."
Em razão do design experimental, o Dr. Toussaint notou que possam ser feitas sobre os efeitos de emoções negativas na dor, mas não vice-versa, permitindo a especulação no que os benefícios para minimizar as emoções negativas possam ser.
"Os resultados sugerem que emoções negativas afectam a experiência da dor em pacientes com fibromialgia em comparação com pacientes saudáveis, que é realmente uma promessa!", disse. "Sugere que muitas das maneiras efectivas para lidar com a raiva e a tristeza que foram desenvolvidos para o uso da população em geral podem ser efectivos e aplicáveis a esse grupo de pacientes."
O Dr. Toussaint e os seus colaboradores têm desenvolvido e testado intervenções de perdão para lidar com uma variedade de reacções negativas emocionais para serem machucadas ou ofendidas. Estudos prévios também mostraram que a educação de perdão é efectiva na minimização de emoções negativas, promovendo emoções positivas, e melhorando a saúde e bem-estar da população geral.
"Essas descobertas sugerem que os nossos métodos podem ter um efeito igualmente poderoso em pacientes com fibromialgia," disse o Dr. Toussaint. "É claro que outros métodos de tratamento da raiva e aconselhamento do luto podem também ter efeitos benéficos. Pesquisas futuras deveriam examinar esses métodos de tratamento das emoções  para a sua eficácia na ajuda de pacientes de fibromialgia com ajuste emocional, dor, e outros sintomas relacionados com a fibromialgia."

Estudo Van Koulil
O segundo estudo, realizado por Saskia van Koulil, do Radboud University Nijmegen Medical Centre na Holanda e colaboradores, exploraram os efeitos da terapia de comportamento cognitivo específico (CBT) e o exercício de treino para pacientes de alto risco com fibromialgia.
"Esse é um estudo clínico randomizado muito forte (RCT) acessando a eficácia da especificação do CBT em combinação com exercícios de treino para pacientes com fibromialgia de alto risco," disse o Dr. Toussaint. "Estudos desse tipo são de difícil realização e os autores deveriam ser aplaudidos pelo seu sucesso por completar um estudo tão importante."
Os pacientes em estudo foram classificados dentro dos grupos de persistência da dor e dose, então foram randomizados em grupos para ou receber um tratamento ou uma lista de espera para controlo da condição. O tratamento foi especificado para o padrão de comportamento cognitivo de cada paciente e consistia de 16 sessões de CBT e treino de exercício, dado dentro de 10 semanas.
"É especialmente encorajador ver que CBT foi especificada as necessidades dos pacientes,” disse o Dr. Toussaint. "A especificação é uma promessa para a potencialização da efectividade desse tipo de trabalho com pacientes com fibromialgia. Abordagens terapêuticas generalizadas não têm tantas hipóteses de serem tão efectivas em razão da variação especialmente larga de uma variabilidade em sintomas, intensidade, e disfunções em fibromialgia."
No início, pós tratamento, e após 6 meses do seguimento, os investigadores mediram o funcionamento físico e psicológico e o efeito na fibromialgia. Um modelo linear misto permitiu a determinação dos efeitos do tratamento.
Para a condição de tratamento versus controlos, ocorreram efeitos de tratamentos significativamente grandes e clinicamente relevantes para todos os resultados primários.
Aproximadamente 60% a 70% dos pacientes a receber a terapia mostraram melhora no funcionamento físico (dor, fadiga, incapacidade funcional), 55% a 69% mostraram melhora no funcionamento psicológico (humor negativo, ansiedade), e 60% mostraram melhora no impacto da fibromialgia na vida diária.
"Enquanto a pesquisa existente e as abordagens terapêuticas enfatizaram abordagens multidisciplinares ao tratamento, as correntes descobertas sugerem que a especificação do CBT pode melhorar a relevância e efectividade desses tipos de abordagem, disse o Dr. Toussaint. "Isso deveria apresentar resultados de aderência melhorados, e eficiência do tratamento. “Nesse tipo de RCT que fala directamente às necessidades variadas e multifacetadas dos pacientes de fibromialgia.”
As forças do estudo, notadas pelo Dr. Toussaint incluem alta retenção de pacientes no estudo, uso de abordagens padronizadas, e resultados estatísticos robustos e clinicamente relevantes.
Duas limitações chave são a falta de cegamento, prevenção do controlo para preconceitos de expectativa; e falta de comparação directa de intervenções específicas versus não específicas.
Em relação a pesquisas futuras, o Dr. Toussaint recomendou a instituição duma condição cega para tratamento, comparando condições específicas versus não específicas, e possivelmente incorporando uma intervenção placebo.
"Os nossos resultados demonstraram que a oferta de um tratamento específico aos padrões de comportamento cognitivo dos pacientes de fibromialgia de alto risco é efectivo na melhora dos resultados tanto físicos quanto psicológicos,” disse a senhora Van Koulil num “release” de notícias.
"O suporte de evidências da efectividade do nosso tratamento específico foi encontrado em relação ao seguimento de abordagens e as taxas de baixa aderência. Os efeitos foram em geral mantidos aos 6 meses, sugerindo que oa pacientes continuavam a beneficiar do tratamento.

Arthritis Rheum. October 2010.

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